notícias

PLATAFORMA ONLINE DIVULGA PERFIL DE 250 PESQUISADORAS BRASILEIRAS DE DESTAQUE

13/02/2020

Iniciativa quer dar mais visibilidade para o trabalho de 50 mulheres de 5 áreas do conhecimento com atuação de excelência - Giovana Girardi, O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO - Para dar mais visibilidade ao trabalho das cientistas mulheres do Brasil, foi lançada nesta quarta-feira, 12, a plataforma online Open Box da Ciência, que destaca o trabalho de 250 pesquisadoras consideradas protagonistas em suas áreas.

LEIA TAMBÉM >Reitor do Mackenzie é nomeado novo presidente da Capes

O projeto cruzou dados do Censo da Educação Superior com informações de outras bases de dados oficiais, como a Plataforma Lattes, para rastrear os número de artigos científicos publicados, prêmios recebidos, eventos organizados pelas cientistas e se elas estão engajadas em divulgação científica.

A partir da análise, foram mapeadas 50 pesquisadoras de destaque em cinco áreas: ciências biológicas, ciências sociais aplicadas, ciências exatas e da terra, engenharias e ciências da saúde. Não foi criado um ranking de melhores. O objetivo é mostrar as mulheres que estão fazendo pesquisa de excelência no País, explicou a cientista de dados Natália Leão, responsável pela pesquisa e metodologia da plataforma.

A iniciativa da organização Gênero e Número, financiada pelo Instituto Serrapilheira, considerou os critérios da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para a concessão de bolsas de apoio à pesquisa para desenvolver um algoritmo que listou todas as pesquisadoras do País com doutorado. Na plataforma, de acesso livre, é possível ver o perfil das pesquisadoras, reportagens que narram suas trajetórias, além de algumas análises dos dados observados.

São histórias como a da farmacêutica Helena Carla Castro, pesquisadora da Universidade Federal Fluminense, que trabalha com o desenvolvimento de novos medicamentos e investigou a resistência do HIV a alguns tratamentos. Seu grupo foi o primeiro a mostrar, com imagens, como se dá esse processo. Ela também tem um trabalho pioneiro de criar cursos de diversidade e inclusão.

Outra pesquisadora destacada, também presente no evento de lançamento, foi a física Sandra dos Santos Padula, do Instituto de Física Teórica da Unesp, hoje uma das colaboradoras das pesquisas feitas no grande acelerador de partículas, o LHC. Ela também tem um trabalho importante com a atração de meninas para a ciência.

Representatividade baixa e desigualdade

Sandra também é destacada como exemplo de uma das estatísticas levantadas pela plataforma – a ainda baixa representatividade feminina nas exatas. As mulheres representam 26% das vagas de doutorado em engenharia e 31% em ciências exatas e da terra. Elas são maioria nas ciências da saúde (56%), e nas ciências sociais aplicadas correspondem a 40% das vagas.

A maior parte das pesquisadoras destacadas na plataforma é branca, tem mais de 40 anos e tem como renda principal os salários das universidades ou centros de pesquisa onde também lecionam. Segundo o levantamento, apenas 15% delas recebem bolsa para pesquisa, apesar de todas terem uma produção científica que lhes tornam candidatas naturais ao recurso.

O levantamento também expõe a desigualdade que existe no Brasil, que cresce conforme aumenta o grau de instrução dos pesquisadores. “As mulheres representam 46% das docentes de ensino superior, mas apenas 23% delas são pretas e pardas. Na pós-graduação, há apenas 400 professoras doutoras. Elas representam 2,4% das docentes”, afirmou Vitória Régia da Silva, jornalista da Gênero e Número, durante o lançamento da plataforma nesta quarta, no Instituto de Física Teórica da Unesp.

Projeto divulga pesquisas nacionais a jornalistas

Pesquisadores brasileiros publicam cerca de 230 artigos científicos, em média, por dia, além de 170 capítulos de livro. Desses 400 novos conteúdos diários, pelo menos uns 10% têm interesse social e, portanto, jornalístico, mas os assuntos não estão nos jornais. Foi diante dessa conclusão que foi pensada uma nova agência de notícias da ciência brasileira, a Bori, lançada também nesta quarta em São Paulo.

O veículo terá como objetivo principal conectar cientistas com jornalistas, e não apenas os que escrevem sobre ciência, a fim de aumentar a visibilidade sobre as pesquisas de destaque que estão sendo feitas no Brasil. A agência vai funcionar em moldes semelhantes ao serviço EurekAlert, dos Estados Unidos, por meio do qual jornalistas cadastrados receberão sugestão de artigos científicos inéditos com uma data embargada de publicação.